
Decidiu então se afastar. Afastou-se dos amigos, da família, das coisas que gostava de fazer, dos lugares que freqüentava. Trancou-se em seu mundo. Um mundo cercado de lembranças que a martirizavam todos os dias.
A cada dia que passava, ela se sentia mais longe de tudo, como se tivesse entrado em um labirinto sem saída. Cercado por espinhos. Quando mais andava, mais se perdia. Quando mais tentava fugir, mais os espinhos a cercavam.
Até que um dia, encontrou uma porta. Uma porta grande, bonita, iluminada, muito chamativa. Ficou receosa no começo, tentava entender como aparecera uma porta ali no meio daquele labirinto sem fim? De onde veio? Pra onde iria? Ninguém respondera sua pergunta. Então resolveu arriscar.
Passo por passo, Ana se aproximava da porta. Ao abri-la encontrou um lugar lindo. Havia sol, céu azul, flores, um aroma de liberdade, crianças brincando nas ruas e... pessoas com sentimentos.
O primeiro momento foi estranho, foi como se acabasse de ganhar sua visão novamente. Era um mundo semi-novo. Era conhecido, porém algo estava diferente.
Aproximou-se pouco a pouco das pessoas, arriscou apaixonar-se. Ana estava adorando reviver tudo isso. Sorria como não sorria há tempos, seu coração vibrava de felicidade e seus olhos brilhavam como as estrelas do céu. Com o tempo, Ana fora esquecendo seus fantasmas, fora perdendo o medo da vida e permitia-se cada vez mais uma aproximação maior com as pessoas.
Certo dia, quando Ana caminhava sozinha pelas ruas, encontrou outra porta. Dessa vez muito mais chamativa, bem maior. Porém Ana sabia que não era certo entrar ali, mas a tentação era grande. Falou com algumas pessoas, pediu opiniões que só fizeram-na ficar mais confusa ainda. Decidiu entrar.
Era um lugar mágico. Um lugar onde ela esquecera absolutamente tudo, por questão de segundos. Ali, Ana se sentira totalmente renovada, como se acabasse de nascer. Vivera intensamente, como se não havesse conseqüências. Mas esse lugar havia uma regra, era possível viver ali por apenas algumas horas. Então Ana teve que ir embora. Mas ao passar novamente pela mesma porta que entrara, Ana deparou-se com seu labirinto interior, lugar de onde jamais deveria ter saído.
Percebeu então, que cometera mais uma vez o mesmo erro e a conseqüência fora ficar presa em seu eterno labirinto. Viu que aquele mundo alucinógeno pelo qual acabara de passar não valera a pena e que mais uma vez magoou as pessoas ao seu redor, que mais uma vez bricou com os sentimentos alheios.
Castigou-se entã. Condenou-se a morrer só e prometera a si mesma nunca mais aproximar-se de nenhuma porta. Só assim não machucaria mais ninguém.
E assim passara o resto da vida. Presa em seu próprio labirinto.
[Y.G]
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